Alistemos, agora, algumas características do que é este movimento. Vejamos nelas as marcas de caráter que muitas das pessoas hoje têm como produto do movimento e como afetam o nosso testemunho de Jesus Cristo.
(1) O colapso das crenças. Seja a fé, a educação, ou a cultura, há uma descrença em tudo que se afirmou até então. Não crêem que seja verdade que o estudo melhore a vida das pessoas e o mundo. Há desinteresse pela herança passada. Tudo é visto como não funcional, como não resultável, não produtor de bons resultados. Um Ronaldinho, que mal consegue fazer uma sentença gramatical articulada, ganha muito mais que um cientista. Vale a pena estudar? Voltando à questão das crenças: não há um conjunto de valores. O que se faz é desmantelar as regras e as estruturas.
(2) A busca de novidades exóticas. Uma música espanhola ilustra isso: “Cada noite um rolo novo. Ontem o ioga, o tarô, a meditação. Hoje o álcool e a droga. Amanhã a aeróbica e a reencarnação” (Cómo decirte, como cóntarte). Normalmente as novidades são contra o estabelecido, e as drogas, muito mais. A mídia cria mitos, cria conceitos, projeta sempre o que é contra os estabelecido. Um exemplo foi a exaltação do Islã em uma novela da Globo. Os evangélicos, enquanto isso, são ridicularizados. Esta atitude surge por causa dos dois itens seguintes.
(3) A descrença nas instituições. Elas falharam em prover um mundo melhor. Os governos, a família, a escola, todos falharam. O jovem não crê na declaração romântica do educador de que está formando mente e educando para o futuro. Não vê o professor encarar a profissão como um sacerdócio, mas como um ganha-pão. Não vê a escola como um lugar agradável nem crê no seu discurso de que estudando a pessoa pode ter oportunidades. Há milhares com diploma na mão e subempregados. Também não crê nas igrejas porque os escândalos são muitos. A igreja dos anos noventas não produziu santos, mas pessoas preocupadas com dinheiro. O vulto mais importante que a igreja evangélica dos anos sessentas legou à humanidade foi o pastor batista Martin Luther King Jr, Prêmio Nobel da Paz. A igreja evangélica dos anos oitentas apresentou ao mundo o bispo anglicano Desmond Tutu, também Prêmio Nobel da Paz. A igreja evangélica dos anos noventas é mais conhecida por Edir Macedo que por qualquer outro personagem. Para o homem pós-moderno, os governos não são honestos nem a classe política é íntegra. A família, via de regra, é um inferno na sua vida doméstica. Isso se vê na legião de meninos de rua que preferem um estilo de mendicância, superior ao que têm em casa. A autoridade nunca é bem vista. É sinônimo de opressão. As pessoas querem ser livres. É o desdobramento do existencialismo, como foi mostrado num filme dos anos sessentas, Cada um vive como quer. As pessoas são senhoras de suas vidas, sem convenções, sem compromissos e sem autoridade. E as igrejas são, hoje, mais instituição do que comunhão. O aspecto institucional e mais importância à ordem e à lei do que à vida nos colocam em desvantagem. Os regulamentos e o “está errado” falam mais alto que a celebração da vida.
Depois da “morte de Deus” para o homem se afirmar (tese central do existencialismo), temos agora a morte do homem. Cabe aqui a frase de Veith: “O modernismo tinha assumido o projeto da morte de Deus. David Levin mostra como o pós-modernismo dá o passo seguinte. Conservando a idéia de que Deus está morto, o pós-modernismo assume como projeto próprio a morte do eu”.
(4) A necessidade de escandalizar. Escandalizam com a conduta, com a recusa às regras, na indumentária e no visual. A própria maneira de se vestir mostra desleixo e até falta de asseio. Gasta-se muito dinheiro para se comprar uma roupa rasgada. Vestir-se mal e como mendigo é sinal de estar na moda. O pós-moderno rejeita padrões. Costumo dizer que adolescente não se veste, apenas se cobre. É a bermuda que não se sabe se é uma calça comprida do irmão menor, porque ficou no meio da canela, ou se é uma bermuda do irmão maior porque ficou pouco acima do tornozelo. Todo mundo é igual: o boné virado para trás, um tênis encardido no pé e uma blusa de frio amarrada na cintura. Isto porque querem ser diferentes. Copiam-se uns ao outros na sua diferenciação. Um piercing dá um toque a mais. Julgam-se diferentes, mas são clones uns dos outros.
(5) Um estilo individualista, hedonista e narcisista. O pós-moderno é individualista, embora viva em “tribos”. Vive sua existência. Não tem patriotismo ou idealismo. É hedonista, vivendo em função do prazer, não necessariamente sexual, mas a busca o que é agradável. É narcisista, pois olha mais para si que para o mundo. O social e outro são irrelevantes. O que vale é o próprio indivíduo.
(6) A falta de cosmovisão. O pós-moderno não tem uma cosmovisão nem mesmo posturas coerentes. Nega a existência de Deus, mas crê em energia de um cristal. Nega a historicidade de Jesus, mas aceita duendes. Age assim porque as cosmovisões são explicações totalizantes do mundo, trazem respostas cabais e últimas. “Nenhuma certeza pode ser imposta a ninguém”, diz o pós-moderno. Recusando uma cosmovisão, uma visão integrada, as pessoas fazem uma crença tipo picadinho. Tudo está bom, tudo está certo. Ao mesmo tempo, isto não faz diferença. Cada um faz sua crença e sua religião. O padrão aferidor é a própria pessoa. Foi isto que Raul Seixas cantou: “Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião sobre tudo, tudo”.
(7) A perda do sentido de história. Não há uma história unificada, produto da visão cristã que impregnou o Ocidente e lhe deu direção. Há acontecimentos isolados, histórias de pessoas que se cruzam entre si, sem nexo, sem ligação. Uma visão global da vida não existe. Existe uma visão fragmentária. Pensa-se no hoje, no fato de agora. Perdeu-se a visão de um passado, um presente e um futuro integrados. O pós-moderno opta pelo efêmero, pelo modismo, pelo fragmentário, pelo descontínuo. Com isto, a vida não tem sentido histórico nem dimensão linear. É para ser vivida agora, numa dimensão pontilear.
(8) A substituição da ética pela estética. O dever cede lugar ao querer. As escolhas são privadas e não mais ligadas à sociedade. A capacidade de viver e de desfrutar o belo substituiu a responsabilidade. O negócio é experimentar sensações, cada vez mais fortes, cada vez mais dinâmicas. Nada de culpa ou de valores. Viver é fazer o que agrada. Ninguém tem nada com a vida alheia. Ninguém se prende afetivamente a alguém.
(9) A crise de pertença, ou seja, a necessidade de pertencer a alguma coisa, se tornou mais aguda, nesta situação. A maldição sobre Caim foi tirar-lhe a pertença. Seria sem raízes, geográficas ou sociais, um nômade, um errante, um peregrino, andante. O homem necessita pertencer a alguma coisa. É uma carência existencial. Precisa pertencer a uma igreja, um clube, uma associação, etc. Com a crise de pertença vieram os relacionamentos “lights”, imediatistas, sem ligações profundas, manifestadas no sexo efêmero e casual. O instinto substitui o afeto. Cada semana, uma pessoa. Pertence-se a uma “tribo”, mas se refugia no anonimato da Internet.
(10) A característica a seguir é a mais forte, em termos de nosso trabalho: a pluralidade ideológica e cultural. Nossa época é uma época de síntese. As pessoas querem ter posições, mas querem concordar com tudo. A pessoa tem uma cultura tecnológica, de informática avançada, mas crê em florais, astrologia e numerologia. Não tem convicções, mas conveniências. Seu credo é mais produto de ajustes de convivência do que de convicção pessoal. Pode-se ter grande zelo pela ecologia e desprezo pelo humano. As crenças e posturas são casuais e produto de circunstâncias. O evangelho pode ser verdade, mas é verdade para uma pessoa e não para outra. Há tantas verdades como pessoas. Cada uma tem e faz a sua.. Mas o maior problema está hoje no neopentecostalismo. Ele está minado pelo paganismo e ele invade nossas igrejas., com sua contaminação. Quero citar um pastor da Assembléia de Deus, sobre este ponto: “Na América Latina, as religiões pagãs populares vão se incorporando aos rituais pentecostais. Pede-se ao diabo para se manifestar, com o objetivo de exercer poderes exorcistas sobre ele, mapeiam-se as moradias demoníacas por causa da influência da cosmovisão pagã de que os poderes malignos tomam posse de lugares. Os objetos supersticiosos, como óleo ungido, rosas sagradas e a água do rio Jordão, passam a ter o mesmo valor no Cristianismo que na religiosidade popular pagã”
A linha entre paganismo e neo e baixo-pentecostalismo tem sido apagada. Este é um dos mais sérios problemas para nós. Nossos crentes assistem aos programas da Universal, onde os fundamentos do protestantismo são negados. O sacerdócio universal de cada crente, a graça por causa do amor de Deus, o fato de que Deus não se deixa subornar, são negados nas suas práticas exóticas. Ao mesmo tempo há a idéia de que uma água benzida pela oração do pastor tem fluidos mágicos. Tudo isto entra na cabeça de nosso povo. Há uma paganização do movimento evangélico hoje. A crença picadinho é muito forte nos segmentos mais baixos do movimento evangélico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário